sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

“Ele é inspirador, uma criança que conversa com Deus na janela do quarto!”

 


Questionamento: há, em sua opinião, demonstração de fé igual ou maior que essa? 

Talvez, você diga que sim e que até já presenciou algo maior. Mas, se tal prosa com Papai do Céu, partir de um carinha que faz isso com frequência e que poderia, diante de tudo que um câncer no estágio quatro, o mais agressivo e para o qual, do tratamento fazem parte drogas pesadas que entram com frequência em seu organismo, causando, inclusive, feridas na boca, concedendo a ele, o direito compreensível de sucumbir, mas, não! Ainda manténs tal afirmativa? 

O Bê, como é carinhosamente chamado pelos pais, completou quatro anos no último dia 27, cantando, falando em Deus, comendo normalmente, o que pode ser algo inacreditável para quem, mesmo com apenas três anos, em setembro de 2024, ficou sete horas em uma cirurgia na qual, Eduarda Pereira Borges e Rodrigo Sigalles, tinham consciência, tanto que assinaram um documento diante do risco, que o filho poderia não sair com vida do bloco cirúrgico. Mas? 

Bernardo surpreende a cada dia, tanto quanto o “Homem”detentor do poder da caneta, que, absurdamente, diz não à sua chance de continuar vivendo. O pequeno faz isso se mantendo firme e como pilar de sustentação, principalmente daquela que, principalmente, o gerou, sentiu as dores ao colocá-lo no mundo e o amamentou. 

“Ele passou por sete ciclos de quimioterapia, um transplante de medula óssea, pela fase crítica do pós-operatório e tantos outros procedimentos que agrediram seu frágil corpinho, mas continua “ignorando” o Neuroblastoma, situado acima de um de seus rins e próximo das veias cava e aorta, que, em caso de rompimento, causam o óbito. 

“Além da químio, teve ainda a radioterapia, períodos de febre, diarreia e tudo mais, e ele seguiu e continua firme, debilitado, mas firme, sempre sorrindo, dando forças a mim e ao Rodrigo, um paizão daqueles que dá banho, troca fralda, invade a madrugada para ajudar cuidar e que está junto comigo o tempo todo. Isso também me fortalece e me mantém sim com fé na Medicina, mas imensamente mais, em Deus”, detalhou Eduarda, 35 anos, que acrescenta: 

“não temos opção: ou seguimos lutando e implorando a Deus, mas não somente a ele, para salvar nosso filho, ou desistimos e o perdemos. Após a cirurgia e a tanta agressividade não só pelo procedimento, mas por tudo que o antecede e a sucede, ele saiu caminhando do hospital. É muita vontade de viver de um ser iluminado e de força indescritível, que renasce a todo momento”, resume a pinheirense. 

Grande parte do que você leu, foi dito à reportagem do Eu Falei, site parceiro do Blog Pinheironline, em novembro passado, mas, virou frustração, pois, mesmo que fosse a chance de remissão da doença, esta voltou, o que tanto Eduarda quanto o marido, sabiam que poderia ocorrer dado ao percentual elevado para isso: 60%. 

“Isso é dolorido. Por todo o protocolo brasileiro à busca da cura, o Bernardo já passou, inclusive pelo transplante para receber as células tronco e nada disso adiantou”, lamenta. 

Quando conversamos com a mãe, no ano passado, ela havia dado início a uma nova batalha que, ainda não foi vencida, mas que continua, já que é a única esperança para vencer a guerra pela vida do filho. 

O casal, que abandonou os empregos em Pelotas para cuidar do filho em Porto Alegre, e que se sustenta com o básico através de doações via Pix, Vakinhas Online ou de venda de rifas, conseguiu que Bernardo fosse aceito em um tratamento experimental nos Estados Unidos, para onde precisarão ir mínimo a cada dois meses o mais rápido que conseguirem. 

“Se ele participar do estudo e receber gratuitamente o D.F.M.O., medicamento desenvolvido inicialmente como um agente antitumoral, a chance de o câncer retornar novamente é imensamente menor. Quem teve acesso a este remédio, que ainda não é comercializado, em apenas 3% o Neuroblastoma voltou. Fizemos as contas e precisamos levantar algo em torno de R$ 450 mil”. 

A cifra é assustadora, mas não há a opção 2. O montante é apenas para pagar as 12 viagens necessárias, bem como a hospedagem, alimentação, os exames e consultas, já que, o medicamento em si, não tem custo. 

“São 97% de chance de termos nosso filho de volta, em caso de captarmos este valor. Conseguimos para uma das viagens, a qual vai custar não menos que R$ 35 mil”, revela. 

Em dezembro, um vídeo gravado por Eduarda em frente ao Hospital de Clínicas, em POA-viralizou. No registro, ela aparece emocionada apanhando outro remédio que, ao mesmo tempo que renova suas esperanças, hoje é motivo de imensa frustração, por depender de decisão da Justiça Federal. 

“O Bernardo ganhou do Instituto Anaju, organização sem fins lucrativos situada em Brasília, dedicada a assistir e amparar crianças com câncer e doenças raras, cinco ampolas do Qarziba, que, no mercado, custam não menos de R$ 305 mil. Mas, com este imunoterápico, que fará com que seu próprio organismo combata as células cancerígenas, permitindo que, a seguir, ele passe a ingerir o D.F.M.O., há a necessidade de que cinco ciclos, a princípio, sejam completados. São R$ 2 milhões. Cada ampola custa R$ 63 mil. Pergunto: quantos pais, no Brasil, sendo a maioria pobre, tem esse valor para salvar seu filho?” 

Tal indagação é feita com a voz embarcada diante da luta, ao menos até agora, consequentemente perdida junto à justiça, que tem repetido o “não” para que o governo federal pague pelo medicamento, sob a alegação de que o menino não se enquadra nos casos que não podem esperar. Ao emitir essa informação, a mãe chora e a exaustão e as tantas decepções vem à tona: 

“como uma criança que já passou por tudo que o Bê foi submetido, esgotando-se o protocolo brasileiro para salvá-lo, com um câncer agressivo, não é um paciente de alto risco? De onde ele tira isso? O juiz exige cada vez mais laudos e exames, todos são feitos e entregues, laudos estes que nem mesmo ele, às vezes, tem a capacidade para analisá-los e, enquanto isso, os dias passam e nada acontece e mães vão perdendo seus filhos, afinal, não é somente o meu, não sou apenas eu quem passo por isso”, chorando, desabafa Eduarda, que segue: 

“pagamos nossos impostos e, quando gritamos por socorro, papéis e papéis. Pergunto: e se fosse com o filho dele, essa pessoa agiria desta forma? Para o representante da justiça, meu filho é somente um número, mas para mim, é a minha vida, pois a vida dele é a minha. Isso é desumano, desesperador, e torna ainda mais dolorido, o que já é extremamente grave e para nós, algo insuportável”. 

Ela conclui: somos gratos, de coração, a todos que nos ajudaram até aqui e que continuarão nos ajudando, toda vez que compram nem que seja apenas um número da rifa que custa R$ 1,00, bem como doam através das vakinhas. Também somos imensamente agradecidos a Deus por ter nos concedido a chance de estar junto ao nosso filho nos quatro aninhos dele, mesmo que, tenhamos consciência ser possível que, no ano que vem, isso poderá, infelizmente, não acontecer”. 


Reportagem Nael Rosa

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