Por Padre Elautério Junior, negro, Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Luz (Pinheiro Machado e Pedras Altas), Diocese de Bagé/RS
Todos os anos é comemorado no Brasil o Dia da Consciência Negra, mas porque comemorar?
O comemorar
nesse caso tenho como relembrar, formar consciência de um processo discriminatório que os negros, no caso
no Brasil, vem sofrendo desde que os primeiros foram forçados a saírem da Mãe África.
Um processo doloroso que deixou e hoje mais do que nunca deixa sequelas nos Afro-descendentes. Não
somos filhos de escravos, somos filhos de homens e mulheres que foram escravizados. Importante salientar
esse aspecto de escravizados, porque nenhum ser humano almeja ser escravo de alguém, não ter direitos,
ser motivo de chacotas, piadas e o pior de ser discriminado por sua cor da pele.
“Consciência, segundo um dos significados extraído do Dicionário Houaiss, é o “sentimento ou conhecimento
que permite ao ser humano vivenciar, experimentar ou compreender aspectos ou a totalidade do seu mundo
interior””.
Consciência Negra é o despertar para a caminhada de busca e de resgate dos valores humanos, culturais,
econômicos e religiosos legados da Afro-descendência de grande parte do povo brasileiro.
É reconhecer que
a raça negra tem memória, história e identidade e que tudo precisa ser resgatado, reinventado, construído
tendo como exemplo os remanescentes de Quilombos que resistiram ao tempo e ao espaço. (Missão Jovem,
Novembro de 2006).
Diante do acima exposto podemos perceber que apesar dos avanços que temos hoje, cotas, reconhecimento
dos Quilombos, muito ainda precisa ser feito, a começar pela conscientização dos negros e negras de seu
valor como pessoa em todos os espaços e também dos não-negros no reconhecimento e respeito pelo ser
humano.
Estamos vivendo tempos sombrios, seja por causa da Pandemia do COVID-19, seja pela falta de
oportunidades no mercado de trabalho para os Afros-descendentes. Cito alguns exemplos: No mercado de
trabalho e, em algumas profissões são raros os profissionais de pele escura. E, quando encontramos ao
comparar as funções e os salários atribuídos são menores que os pagos aos não-negros.
No caso da mulher
negra é relegado a ela o sub-emprego (Babás, faxineiras, domésticas...) não que sejam desonrosos essas
atribuições, mas falta muito para que as mesmas passem a ocupar cargos maiores, por exemplo, nas
empresas.
No caso do homem negro, alguns até ocupam bons cargos, mas de novo, com uma diferença salarial para
menos que os de outras etnias.
As Eleições Municipais deste ano, escancararam o quanto se precisa lutar pela igualdade, acompanho
tristemente pelas mídias, o que por exemplo, as mulheres negras eleitas vem enfrentando e terão de
enfrentar ao longo de seus mandatos.
Vale lembrar que essa luta pela igualdade e respeito tem uma história que tem como ícone Zumbi dos
Palmares, morto em 20 de novembro de 1695 e nos deixou um exemplo de perseverança e luta pela
liberdade. Esse espírito de Zumbi nos ajudou a galgar lugares na sociedade, as conquistas que temos hoje,
cotas raciais, uma maior participação e reconhecimento da mulher negra no desenvolvimento e construção
da sociedade, o amparo legal conquistado através da Lei Anti-racismo.
No âmbito da saúde, precisamos continuar lutando para que o tratamento da Anemia Falciforme seja
universal e de fácil acesso à todos e todas.
Quando dizemos e ouvimos dizer que não existe racismo, nos deparamos com uma negação de uma realidade
que não condiz, vejamos por exemplo os termos usados: negro de alma branca, preto por fora mas branco
por dentro, cabelo ruim, beiçudo, nariz esborrachado entre tantas outras.
Vencer o racismo é uma luta diária, não somente dos negros mas de todas as pessoas que sentem empatia,
para isso, é necessário uma conversão de corações e de mentes.
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