Comprei um Corcel II, ano 1983, com uma ideia meio maluca na cabeça: ir até a Cordilheira dos Andes. Você pode até se perguntar por quê. A resposta é simples: desafio.
Convidei meu amigo Douglas, que já tinha encarado comigo uma viagem até Ushuaia em outra ocasião. Sem pensar duas vezes, ele topou. Então era isso: pegamos o Corcel, carregamos nossas tralhas e partimos numa segunda-feira, sabendo que o caminho seria difícil e que imprevistos certamente apareceriam.
Nossa jornada começou por Uruguaiana. Ali mesmo, na fronteira, trocamos alguns reais por pesos e seguimos viagem pela Ruta 127 — um trecho terrível nos primeiros 70 km, que já nos mostrou que a aventura não seria fácil.
Depois passamos por várias cidades, entre elas Paraná, uma cidade linda, organizada, com trânsito tranquilo, muitas opções de lazer e pontos turísticos. Dali em diante vieram as longas e intermináveis retas argentinas. Íamos parando cada dia e dormíamos, na maioria das vezes, nos postos YPF pelo caminho. Quase todos os dias acordávamos às 5h e partíamos às 6h, rodando sempre cerca de 800 km ou mais por dia.
Chegamos a Mendoza, uma cidade belíssima, com quase 500 mil habitantes. Alugamos um Airbnb bem no centro, perto de vários pontos turísticos. À noite, fomos experimentar um prato tradicional argentino: cordeiro assado. Uma experiência simplesmente maravilhosa.
Foi nesse dia que surgiram os primeiros problemas no carro, principalmente na parte elétrica. A bateria se esgotava quase todas as manhãs. Improvisamos uma solução provisória e nos preparamos para encarar o grande objetivo da viagem: a Cordilheira dos Andes e os famosos Caracoles.
Saímos bem cedo. Pelo caminho, paisagens de tirar o fôlego. Ao chegar na fronteira do Chile, ficamos mais de duas horas na fila para fazer a aduana e a migração. Quando finalmente passamos, já era por volta das 10h25.
Chegamos ao Parque Aconcágua, onde o acampamento já estava a 3.390 metros de altitude. Nesse ponto, o velho Corcel sofria, mas seguia firme. Subimos até os Caracoles, enfrentando ventos de mais de 110 km/h e uma altitude de 3.500 metros. Tiramos fotos, fizemos vídeos e, com o coração cheio de conquista, começamos o retorno, passando por Los Andes em direção ao Brasil.
O carro continuava apresentando falhas na parte elétrica e no combustível, mas seguimos determinados. Passamos por mais algumas cidades e retornamos em direção a Pinheiro Machado.
No total, viajamos 4.396 km entre ida e volta, tudo isso em apenas 6 dias, a bordo de um veículo carburado, ano 1983, e gastamos menos de R$ 2.500,00 nessa aventura.
Essa viagem nos ensinou uma grande lição:
Quando você quer algo de verdade, corra atrás e conquiste. Nada é impossível perante Deus.



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